domingo, 29 de setembro de 2013

Daquilo que nunca será.

"Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? 
Ser o que penso? 
Mas penso tanta coisa!"

Fernando Pessoa, mais uma vez, expressando o que eu queria. Aliás, o que eu queria? Já não sei. O que eu queria há horas atrás, já não é o que quero. O que eu queria ontem, já não é o que quero hoje. A cada minuto que passa, um querer diferente me ocorre. E o que pensar de tanto querer?

"Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

"Se existo é um erro eu o saber. Se acordo Parece que erro. Sinto que não sei. Nada quero nem tenho nem recordo. Não tenho ser nem lei. Lapso da consciência entre ilusões, Fantasmas me limitam e me contêm. Dorme insciente de alheios corações, Coração de ninguém. "

Aí vem o que pulula, a constatação de que não se é. Ser é o grande desafio, porém, nunca se é. Ser algo, ser alguém, ser isso ou aquilo, é algo que não me convence. Por que nunca sinto que sou algo ou alguém, aliás, nunca sei se serei.
Estar? Estou isso ou aquilo? Estou alguém? Também não me convence. Pensar que estar é a resposta, não é uma resposta satisfatória para alguém que quer ser alguma coisa e nunca se convence daquilo que quer ser.

"Não sei quem sou, que alma tenho.Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
A verdade é que nunca haverá uma resposta. O que sei é que hoje, agora, sou feliz. E sei os motivos que me levam a ser feliz. Sei também de todos os motivos que tenho para não ser feliz -- ah, creia, não são poucos! Mas, a verdade é que me sinto feliz, agora, independentemente dos motivos.
O que nunca me diz quem sou, quem estou ou quem serei é onde mora a angústia.

"Sempre uma coisa defronte da outra,Sempre uma coisa tão inútil como a outra,Sempre o impossível tão estúpido como o real,Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra."
As angústias daqueles que não sabem o que querem ou o que estão fazendo, me incomoda. Os jogos de poderes que acontecem no cotidiano, me incomoda. As banalidades daqueles que não sabem quem são naquele momento, me incomoda.
O que resta?
"Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Nada, absolutamente, serei. Nem estarei.