quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Noites brancas

Sempre fico impressionada quando leio um livro e me defronto com formas diferentes de trato entre as pessoas, um jeito mais formal, digamos assim. Sempre fico me perguntando "será que as pessoas realmente se tratavam com toda essa pompa e circunstância? Será que realmente tinha esse formalismo no trato entre as pessoas?" se, por outro lado, podemos dizer que certas características sociais não tinham a mesma "fineza". Exemplifico com a forma como se tratavam, por exemplo, os contraventores. Havia para com eles a prática da tortura pública e tudo mais, algo que hoje não é aceitável no ocidente.
Assim sendo, levando-se em conta que as pessoas há um século atrás (não precisamos ir tão longe) mantinham toda uma formalidade com as palavras entre elas, um grande respeito e tudo mais, é de se estranhar que em contrapartida no trato em si a coisa era um pouco diferente. Sempre fico me perguntando sobre isso quando termino de ler um livro. Já devem ter pesquisado a respeito, obviamente, e deve haver por aí alguma resposta para isto, porém eu nunca fui atrás, pois gosto de ficar pensando sem chegar em conclusão alguma (ahan... vai nessa.).

Eis que eu terminei de ler "Noites brancas" do Dostoievski. Confesso que levei uma eternidade para terminar de ler este livro. Comecei, parei e recomecei trilhões de vezes. E olha que é um livro pequeno!!!
Acho que sempre tenho a mesma reação quando eu leio algum livro de um determinado autor, que tem um determinado estilo e, quando vou ler outro que não tem o mesmo estilo, eu desanimo. Foi assim com o Noites Brancas. Mas... enfim... terminei!!!

O que posso dizer desse livro?
Além de ter lido com diversos rabiscos de um companheiro que leu uma parte do livro, algo que por vezes me fazia desviar do texto e ficar tentando imaginar o que o levou a querer rabiscar aquela parte e não outra (viagens durante uma leitura), de ter demorado um século para ler, digo que ao final eu gostei muito do livro. Sério.
Quando fui ler os comentários do posfácio também me identifiquei com tais comentários.
Fato é que a história é cheia e vazia ao mesmo tempo. Fala sobre um tipo de amor que me parecia muito com amor romântico. Aquela coisa de amar à primeira impressão, sabe? Pois é.
Mas também vai contando do quanto a vida das pessoas naquela cidade é difícil, mostra o quanto tinham pessoas pobres, solitárias, que davam nó em pingo d'água para sobreviverem. Também mostra um pouco a forma como as mulheres eram tratadas e criadas, simplesmente para casar com um "grande amor" que era muito mais idealizado do que vivido.
O rapaz da história, eloquente, me lembrava muitas vezes um grande amigo meu. Um amigo que gosta de inventar histórias, de aumentar fatos, de enrolar as pessoas. O cara da história também era assim. Mas, no caso, ele tinha se apaixonado.

Acho que o fim da história foi a parte que mais me surpreendeu. Primeiro, porque de fato a moça preferiu o amor de um desconhecido, de quem tinha apenas uma imagem idealizada, do que o amor de uma pessoa que conhecia de fato. Que já amava (mas de outra forma). E, nesta situação, ela menciona para o rapaz que se apaixonou por ela, que se fosse possível ela amaria os dois.
Será possível amar duas pessoas? Algumas pessoas têm dito que sim, que é possível. Outras dizem que não. Eu digo que é possível amar muitas pessoas, mas um amor de companheirismo, de viver junto, de intimidade total, cumplicidade e tudo mais, só é possível com uma pessoa. Até porque não sou acostumada a dividir muito minhas coisas com ninguém, muitos dizem por aí que sou uma pessoa bastante reservada, e é verdade. Sou reservada com minhas coisas, mas aberta a conhecer os outros. Cada um tem seu jeito, eu tenho o meu. E não, para mim não dá para pensar num relacionamento como um "casamento" com mais de uma pessoa...
Acho que a escolha da moça por um rapaz que era simplesmente idealizado em detrimento de outro que ela "conhecia mais", me faz pensar que sempre o caminho da idealização é mais atraente. Aquele caminho em que tudo está no plano da fantasia e que o "outro" é um ser quase perfeito sempre é o caminho mais atraente. Foi assim para a personagem do livro.

E no final, outra coisa que me chama a atenção é a forma como o rapaz, que foi rejeitado, reagiu.
Sinceramente, foi uma reação muito pouco comum! Um cara, que se apaixona e é rejeitado, simplesmente ao final não sente raiva nem nada, apenas se contenta por ter vivido poucos momentos de profunda felicidade, profunda alegria, e isto já bastaria para toda uma vida...

Emocionante e penso que um dia quero ser assim, como esse cara.

Enfim, falei de várias partes do livro, de maneira não muito coerente. Mas eu queria registrar as principais impressões, espero que vocês já tenham lido o livro e, caso ainda não tenham lido, desculpem-me por contar o final!!!!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

De corpo e alma.

"Um corpo quer outro corpo. 
Uma alma quer outra alma e seu corpo."

Como, de repente, sentir seu corpo todo num contínuo ressoar de notas, por vezes tortas, por vezes mortas, agora muito mais vivas. Eis que ressurge uma paz ainda indescritível desses poros e desse sangue que muitas vezes parecia dizer coisas incompreensíveis.

"Esse excesso de realidade me confunde."

Não mais que isso, por vezes tudo se confunde, não se sabe quem sou eu ou quem és tu, tudo somos nós e nós nos perdemos. Até aquele limite em que gritamos, choramos, caçoamos. Da vida e de tudo ao nosso redor, que somos nós e são os outros simultaneamente. É quando nos juntamos e olhamos a realidade, a nossa e de mais ninguém. Mesmo nessa confusão, em que por fim concluímos que na verdade nada somos, nem estamos, não fomos, nem seremos, senão que somos tudo em todos e em nós mesmos. O eu e o tu não existem, senão nossos corpos. Apenas corpos, que num tocar de múltiplos acordes se encontram e criam as mais variadas harmonias. Se encontram porque são inteiros. São corpoS.

"As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade."


Daqueles corpos então frágeis se firmou o sol. Como num dia de primavera clareando e aquecendo, vendo suas flores brotarem repentinamente, sentindo o calor e o suor. É como se corpos novos estivessem a nascer também, ainda que frágeis mas vivazes.

"Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu."


Quanto mais torta a rua que construíamos, tanto mais cegos estávamos. Cegos de tanto ver essa dura realidade - e não ver a outra. Caminhando, tropeçando, jogando um ao outro no buraco. Vendo carros puxando uns aos outros. Olhando o céu clarear e escurecer, às vezes nem o clarear. Tanto nos abraçar, beijar, chorar. Em alguns momentos, o caminhar sem rumo era o que mais importava. Às vezes, o trilhar rumos diferentes era o que se colocava. Guiados por nossos copos tortos e frágeis e que dessa vez, agora, se mostram vivos e fortes, naquilo que se pode chamar de paz. De corpo e alma.
(Em itálico, Adélia Prado)

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Dos arrependimentos e aprendizados da vida.

De tudo o que vivi, muitas coisas aprendi. Aprendi sobre os outros, aprendi sobre mim, aprendi sobre a família, sobre o trabalho. Sempre aprendi e venho aprendendo, acho que sempre será assim, enquanto há vida para mim.
Sobre os outros, aprendi de diversas maneiras, que existem muitos "outros". Há os outros que são pra vida toda, amigos, com quem se pode contar nas horas difíceis e se compartilhar as horas felizes. Esses outros, em geral não são muitos, mas são aqueles que sabemos que sempre estarão lá, por mais burradas que façamos ou mais sucesso que tenhamos. São os "outros" que realmente importam na nossa vida. Eles, em geral, também pensam o mesmo da gente e, nem sempre, estão tão próximos, no cotidiano.

Há aqueles "outros" a quem certas vezes pensamos que pertenceriam à primeira categoria de "outros", porém com o passar do tempo descobrimos que não é bem assim. São os "outros" que em geral nos apoiam, em geral suportam nossas dificuldades e compartilham das nossas alegrias, mas em momentos críticos nem sempre nos entendem. É como se esses "outros" nunca tivessem acessado a gente de verdade, ou optam de maneira que pode ser consciente ou inconsciente, em não enxergar ou não entender a gente na nossa essência, às vezes por motivos interesseiros ou às vezes por condições que a vida lhes impõe. São "outros" importantes, mas nem tanto, pois não conseguem enxergar aquilo que há de mais sincero em nós, algo que se aproxima de uma essência de quem somos.
E há alguns outros que não são tão próximos nem tão distantes, e que precisam de um olhar atento da gente, pois muitas vezes apesar da distância são pessoas que enxergam nossa essência, mas por alguns fatores da vida como gosto, posição econômica, condição familiar, etc, não estão tão próximos. E muitas vezes nos entendem com certa precisão que quando nos damos conta até assusta. Nessa categoria de "outros" há também aqueles que estão de fora, nos olham, porém não querem aproximação e não estão interessados em se aproximar. E ok, faz parte da vida.

Acho que um dos grandes aprendizados que venho tendo da vida é entender e valorizar cada "outro" que se aproxima, é conseguir olhar para cada "outro" e, por vezes, me surpreender. Infelizmente, há outros que se aproximam e, sem que percebamos, nos enxerga e de certa forma entende o que seria nossa "essência", porém utilizam desse tipo de entendimento para alcançar objetivos próprios. Se aproximam por pura ambição. Este tipo de "outro" é o que mais me assusta e ainda o que mais preciso aprender a lidar.

Das muitas coisas da vida que passamos, muitas vezes nos arrependemos. Acho que esta palavra "arrepender" tem que ser bem ponderada, para que possamos não nos encher de culpa mas sim, repensar nossa vida e nossas escolhas. Já me arrependi de pessoas em quem confiei e descobri que não poderia ter confiado. Também já me arrependi de relacionamentos que não terminei quando deveria ter terminado. Me arrependi de prioridades que coloquei em certos momentos da vida e que depois analisei que não eram tão prioritárias assim. Já me arrependi de ter morado em determinados locais, com determinadas pessoas, e me arrependi de não ter morado com outras pessoas em determinados momentos.
Mas é fato que há algumas coisas das quais nunca me arrependi. Uma das coisas é, nunca me arrependi de ter vindo morar em São Paulo. Por enquanto, apesar dos problemas que esta vida aqui me trouxe, há muitas coisas positivas e não, nunca me arrependi.
Outra coisa da qual nunca me arrependi, e isso pode soar estranho para algumas pessoas, mas nunca me arrependi de ter saído de algum emprego. Em geral, essa decisão sempre partiu de mim e não, eu nunca me arrependi. Todas as vezes em que isto aconteceu, eu tinha motivos de sobra pra ter saído, o que muda é a forma. Essa, sim, pode ser motivo de arrependimento. Apenas uma das vezes eu me arrependi da forma, porém, não há outra opção senão aceitar os fatos. A forma de se sair de um local de trabalho é relativa, primeiro, ao trabalho em si, a como ele se dá, às relações de trabalho que se estabelecem. Segundo, à questões pessoais, a como cada um lida com o "sair" de um trabalho e ao momento de vida pessoal que pode levar cada pessoa a sair de um trabalho. Terceiro, às condições de trabalho em si, estas estão relacionadas com o primeiro item porém merece ser mencionada de forma específica. Quarto, à possibilidade de algum outro trabalho a ser iniciado, que irá afetar a forma com que se encerra um trabalho anterior.

De toda forma, a vida pode ser e acho que é mesmo uma caixinha de surpresas, em que por vezes saem fadas e geninhos e, às vezes, podem sair os maiores males do mundo. O importante é nunca deixar de olhar para si e para o "outro" entendendo que o "si" e o "outro" sempre podem mudar, mas o mais importante é nunca se perder no processo, nunca esquecer quem se é - e quem não se é.
Em horas em que se questionam sobre quem você é, é importante estar atento aos "outros" que conseguem olhar pra você e conhecer a sua essência. São esses os "outros" que valem a pena, estejam perto ou longe. Nessas horas é que você põe em xeque o quanto do "outro" você de fato chegou a conhecer, você consegue ponderar sobre o quanto você de fato conseguiu olhar para o outro e conhecer aquilo mais próximo do que seria a essência desse outro. Por mais condições que a vida nos coloque, nunca podemos deixar de olhar de fato para o outro e tentar limpar o olhar, ainda que ele implique em ter que rever as próprias escolhas ou ter um olhar mais crítico para nossa própria vida.

É, acho que o post ficou confuso, mas era mais ou menos isso que eu gostaria de registrar...