Sempre fico impressionada quando leio um livro e me defronto com formas diferentes de trato entre as pessoas, um jeito mais formal, digamos assim. Sempre fico me perguntando "será que as pessoas realmente se tratavam com toda essa pompa e circunstância? Será que realmente tinha esse formalismo no trato entre as pessoas?" se, por outro lado, podemos dizer que certas características sociais não tinham a mesma "fineza". Exemplifico com a forma como se tratavam, por exemplo, os contraventores. Havia para com eles a prática da tortura pública e tudo mais, algo que hoje não é aceitável no ocidente.
Assim sendo, levando-se em conta que as pessoas há um século atrás (não precisamos ir tão longe) mantinham toda uma formalidade com as palavras entre elas, um grande respeito e tudo mais, é de se estranhar que em contrapartida no trato em si a coisa era um pouco diferente. Sempre fico me perguntando sobre isso quando termino de ler um livro. Já devem ter pesquisado a respeito, obviamente, e deve haver por aí alguma resposta para isto, porém eu nunca fui atrás, pois gosto de ficar pensando sem chegar em conclusão alguma (ahan... vai nessa.).
Eis que eu terminei de ler "Noites brancas" do Dostoievski. Confesso que levei uma eternidade para terminar de ler este livro. Comecei, parei e recomecei trilhões de vezes. E olha que é um livro pequeno!!!
Acho que sempre tenho a mesma reação quando eu leio algum livro de um determinado autor, que tem um determinado estilo e, quando vou ler outro que não tem o mesmo estilo, eu desanimo. Foi assim com o Noites Brancas. Mas... enfim... terminei!!!
O que posso dizer desse livro?
Além de ter lido com diversos rabiscos de um companheiro que leu uma parte do livro, algo que por vezes me fazia desviar do texto e ficar tentando imaginar o que o levou a querer rabiscar aquela parte e não outra (viagens durante uma leitura), de ter demorado um século para ler, digo que ao final eu gostei muito do livro. Sério.
Quando fui ler os comentários do posfácio também me identifiquei com tais comentários.
Fato é que a história é cheia e vazia ao mesmo tempo. Fala sobre um tipo de amor que me parecia muito com amor romântico. Aquela coisa de amar à primeira impressão, sabe? Pois é.
Mas também vai contando do quanto a vida das pessoas naquela cidade é difícil, mostra o quanto tinham pessoas pobres, solitárias, que davam nó em pingo d'água para sobreviverem. Também mostra um pouco a forma como as mulheres eram tratadas e criadas, simplesmente para casar com um "grande amor" que era muito mais idealizado do que vivido.
O rapaz da história, eloquente, me lembrava muitas vezes um grande amigo meu. Um amigo que gosta de inventar histórias, de aumentar fatos, de enrolar as pessoas. O cara da história também era assim. Mas, no caso, ele tinha se apaixonado.
Acho que o fim da história foi a parte que mais me surpreendeu. Primeiro, porque de fato a moça preferiu o amor de um desconhecido, de quem tinha apenas uma imagem idealizada, do que o amor de uma pessoa que conhecia de fato. Que já amava (mas de outra forma). E, nesta situação, ela menciona para o rapaz que se apaixonou por ela, que se fosse possível ela amaria os dois.
Será possível amar duas pessoas? Algumas pessoas têm dito que sim, que é possível. Outras dizem que não. Eu digo que é possível amar muitas pessoas, mas um amor de companheirismo, de viver junto, de intimidade total, cumplicidade e tudo mais, só é possível com uma pessoa. Até porque não sou acostumada a dividir muito minhas coisas com ninguém, muitos dizem por aí que sou uma pessoa bastante reservada, e é verdade. Sou reservada com minhas coisas, mas aberta a conhecer os outros. Cada um tem seu jeito, eu tenho o meu. E não, para mim não dá para pensar num relacionamento como um "casamento" com mais de uma pessoa...
Acho que a escolha da moça por um rapaz que era simplesmente idealizado em detrimento de outro que ela "conhecia mais", me faz pensar que sempre o caminho da idealização é mais atraente. Aquele caminho em que tudo está no plano da fantasia e que o "outro" é um ser quase perfeito sempre é o caminho mais atraente. Foi assim para a personagem do livro.
E no final, outra coisa que me chama a atenção é a forma como o rapaz, que foi rejeitado, reagiu.
Sinceramente, foi uma reação muito pouco comum! Um cara, que se apaixona e é rejeitado, simplesmente ao final não sente raiva nem nada, apenas se contenta por ter vivido poucos momentos de profunda felicidade, profunda alegria, e isto já bastaria para toda uma vida...
Emocionante e penso que um dia quero ser assim, como esse cara.
Enfim, falei de várias partes do livro, de maneira não muito coerente. Mas eu queria registrar as principais impressões, espero que vocês já tenham lido o livro e, caso ainda não tenham lido, desculpem-me por contar o final!!!!
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